Agora eu sou uma estrela

Desde pequena que vivo cercada pela música. Tanto que, cada momento, cada acontecimento em minha vida está ligada diretamente com uma determinada música.
Por volta de meus cinco, seis anos de idade, não perdia um só programa da Jovem Guarda afinal, meu primeiro ídolo foi o “gatão” Ronnie Von.
Mas foi nesse período que aconteceram vários festivais que mudaram o rumo da nossa MPB. E fui testemunha desses acontecimentos. E foi num desses festivais que vi pela primeira vez Elis Regina.
Garota elétrica que cantava não só com os pulmões e garganta, mas, principalmente com a alma. E gesticulava de uma forma engraçada que até parecia que ia levantar vôo. Garota sorridente, com olhos atentos que pareciam não querer perder um só detalhe de tudo o que acontecia ao seu redor. Acompanhada daquele que foi seu grande parceiro no palco Jair Rodrigues, formaram uma dupla animada e sintonizada e pareciam estar sempre mais se divertindo que trabalhando em cima do palco.
Passaram-se os anos, amadureci e, somente no final da década de 70 é que voltei a ter minha atenção voltada para aquela que agora tinha se tornado uma mulher.
Feito uma pedra bruta lapidada com muito amor, maestria e talento, Elis se transformou numa cantora de raro quilate e brilho. Sofisticou-se tanto no seu visual, quanto no seu gosto musical. Garimpando com olhos e sentidos atentos compositores e canções que fizeram e ainda fazem a cabeça de muitas pessoas, de várias gerações.
Fui fisgada por suas interpretações e nunca mais me vi livre dela. Apeguei-me principalmente a canções que quase nunca são tocadas nas rádios, mas que foram registradas por sua voz e emoção que me tocam fundo cada vez que ouço: Bolero de Satã gravada com Calby Peixoto é um exemplo disso que estou falando. Interpretação de ambos que toca fundo em meu coração. Meio-termo, uma canção que somente a pouco tempo chegou até mim. Essa canção me deixou até atordoada de tanto que me sensibilizou. De lá pra cá Elis se tornou parte integrante de minha vida e de meus momentos.
Sua partida deixou-me órfã e com um vazio muito grande que, com o tempo, foi se amenizando até se transformar em uma saudade boa. Até parece que a conheci de fato de tanto que pareço conhecê-la. Passei a adotar por intermédio dela, toda a sua prole que, ao crescerem, também me comovem com suas canções e interpretações. Meu amor e minha admiração se estenderam para o Pedro (que tanto amo) e para Maria Rita que já gostava mas que, ao assistir seu novo show sábado, ganhou-me por completo. Porisso todo ano nessa data constato o que de fato aconteceu e sempre reafirmo: Hoje o céu está mais brilhante, pois nasceu uma estrela de uma luminosidade absurda que ilumina a todos.
Afinal, ao nos deixar aqui na Terra sem sua presença humana tão forte, Deus vendo o quanto ficamos tristes com sua falta transformou-a em uma radiante estrela no céu.
E lá de cima, Elis sempre nos olha, dá aquela gargalhada deliciosa e diz:
- Agora, eu sou uma estrela!
Esta é uma singela, mas verdadeira homenagem que faço àquela que foi e continua sendo pra mim a maior intérprete da MPB de todos os tempos. E compartilho com todos que também a amam e admiram.

Comentários

pedromarianoavoz disse…
Vai escrever bem assim lá em casa...falou tudo. No dia revi a Entrevista para o Vox Populis e ri muito com a risada dela, e com força ao ter que falar seriamente.
bjs

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