Retorno das trevas


Esse texto faz parte da blogagem coletiva "Momentos de Inspiração 19ª edição" promovida por Irene Moreira M@myrene
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Era um momento especial para a jovem Celina. Retornando de uma viagem pela escuridão total, sentia-se debutando na vida e tudo de belo que ela oferecia. Aprendera a ler e até chegou a exercer tal atividade até aquele dia fatídico. Tinha em seu quarto, uma pequena biblioteca de livros infantis que outrora possibilitara viagens pelo mundo da fantasia. Agora, aos quinze anos, após um longo percurso de recuperação, voltara para a vida na luz. Emergira de sua condição de cegueira total ocasionada por um acidente e por um trauma em ver sua mãe morrer em seus braços. Foram anos de tratamento médico e psicológico pois além de perder a visão, a pequena Celina emudeceu. Simplesmente se apagou para a vida. Recolhera-se em seu mundinho interior como forma de se proteger da dureza que era a vida. Armando, seu pai que a acompanhou em todos os momentos cruciantes, mantinha a fé de que a garota superaria tal trauma. Em seu período trevoso, diariamente lia para ela várias histórias que pudessem estimular seu retorno. Pollyana, Fronteiras do Universo, O incrível livro de hipnotismo de Molly Moon, A invenção de Hugo Cabret, Jogos vorazes e tantos outros livros de aventura foram narrados com emoção e carinho pelo pai zeloso. Pouco a pouco, a menina foi tomando gosto pela vida e sutilmente, um brilho foi se acendendo naqueles olhinhos embaçados pela dor. Na semana passada, Celina acordou enxergando luzes em seu leito. Mas ainda não expressava nada. A enfermeira que cuida da menina percebendo esse fato, chamou de imediato seu Armando que largou tudo na empresa para ver sua filha retornando.
A menina já começa timidamente a falar algumas frases um pouco desconexas e, hoje pela manhã, seu Armando pegou-a pelas mãos e disse:
- Filha, venha comigo até o jardim pois tenho um presente para você.
No belo jardim da residência, havia um banco repleto de livros. A jovem deu alguns passos trôpegos, tímidos e se aproximou. Sentou na beira do banco e olhos de forma interrogativa para o pai.
- Celina, como você já gostava de ler quando pequenina, ao saber que sua visão voltou, a primeira coisa que me veio a mente foi correr para uma livraria e comprar muitos livros que, tenho certeza, vão agradar você. Pode pegar. São todos seus.
- Olha querida, vou te deixar a sós para que se deleite com o presente. Fique a vontade com eles. São todos seus e aproveite para tomar um pouco de sol que te fará bem.
Dizendo isso, aproximou-se e depositou um beijo amoroso na testa da menina e saiu.
Já se passaram duas horas e meia e Celina ainda se encontra lá no banco, passando seus olhinhos ávidos pelas páginas dos livros. Até já esboçou alguns tímidos sorrisos diante do que conseguiu ler.

A vida parece voltar ao lar dos Benedetti.


Comentários

Unknown disse…
Virei sua fã...história emocionante!
Cita várias leituras e mostra o amor como meio de superação.
Te espero sempre nos meus cantinhos e eu sempre que der estarei por aqui.
Xeru!

http://subjetividadeevoce.blogspot.com.br/

http://vallnunnes.blogspot.com.br/
chica disse…
Maravilha de conto!

Adorei e que bom que a paz voltou na família!@ beijos,tudo de bom,chica
Verena disse…
Olá Roselí,
Me emocionei com o seu lindo conto, Roseli
Minha filha é cega de um olhinho e no outro ela enxerga muito mal
Sei bem como o senhor Armando se sente
Linda participação!!!
Beijinhos de
Verena e Bichinhos
RUDYNALVA disse…
Roseli!
Chegou no clima da blogagem coletiva.
Parabéns pelo texto bem escrito.

Que seu final de semana seja esplendoroso!!
cheirinhos
Rudy
Blog Alegria de Viver e Amar o que é Bom!
Anne Lieri disse…
Roseli,quanta emoção nesse belo conto que criou! Muito inspirada,adorei! bjs,
Bonito e comovente conto. Parabéns pela participação.
bjs

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