Saúde pública: o caos impera

Há alguns dias passei por uma experiência que é, no mínimo, difícil de classificar. Tive momentos de raiva, de medo, de indignação, de revolta e por fim, cansaço de toda uma situação que vivenciei.


Tive que acompanhar minha irmã que passava mal, a um pronto-socorro. Chegando lá, até estranhei pois ela foi chamada logo. Ao entrar na sala do médico, esse nem ao menos olhou para ela e perguntou qual o problema. Como havia levado um relatório do médico dela explicando seu caso pois é complicado, esse profissional nem ao menos teve a delicadeza de ler todo ele e, jogando o relatório na mesa foi logo falando que eu tinha ido ao lugar errado, pois ele nada podia fazer por minha irmã. Indignada, respondi: "Nossa Doutor, por acaso isso aqui é uma padaria? Será que me enganei tanto assim?"

Ao que ele sorrindo de uma forma que mais parecia um engasgo me respondeu:

"Veja bem minha senhora, aqui não estamos preparados para atender sua irmã. Vou indicar um outro hospital que, inclusive tem neurologistas de plantão e lá ela será bem atendida". Só que um pequeno detalhe sobre esse hospital ele ocultou mas é de meu conhecimento: esse hospital é péssimo tanto quanto esse pronto-socorro em que estava. Logo, tratei de pegar minha irmã e seguir para a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Como minha irmã já faz tratamento por lá, peguei um taxi e fui . Pra ajudar a aumentar minha agonia, peguei um motorista que não conhecia o caminho para a Santa Casa e ficava rodando a 10 por hora olhando as placas e perguntando o caminho para mim. Chegando ao pronto-socorro da Santa Casa, minha outra irmã que também tinha ido junto foi a recepção fazer am ficha de entrada da paciente. Enquanto isso fui com a doente para a sala de espera aguardar a chamada. O tempo foi passando, minha irmã se queixando de dores horríveis na cabeça, a sala de espera foi ficando tumultuada, chegando cada vez mais pessoas necessitadas e, de repente, o caos estava instaurado. Havia só um médico para fazer as triagens. Ah, um detalhe que estava me esquecendo: era o domingo da Parada Gay em São Paulo. Digo isso para esclarecer que pouco a pouco, começou a dar entrada pessoas que estavam na Parada Gay e que chegavam em coma alcoólico, com sintomas de overdose, machucados por terem entrado em confrontos e por ai vai. Enfim, o pronto-socorro estava caótico. Após 3 horas na espera e observando que pessoas que haviam chegado bem depois de nós estavam sendo atendidas, fomos verificar com a recepção e nos foi dito que provavelmente, os médicos haviam retirados do lugar as fichas dos pacientes. Passado mais uma hora, fomos falar com o médico que estava fazendo as triagens e ele exaltado disse que estava trabalhando conforme os protocolos do hospital e que devíamos aguardar. Aguardar mais ainda? Mas era uma emergência!!! Após reclamar muito, finalmente o médico chamou minha irmã e ela entrou. Passado alguns minutos, o médico saiu da sala e foi a recepção. Voltou para a sala novamente. E alguns segundos depois, minha irmã que estava muito mal saiu da sala de forma intempestiva, xingando, chorando e chutando tudo o que via pela frente. De tanta dor, sofrimento e descaso, minha irmã estava surtando. Sabem o que havia acontecido? Simplesmente não fizeram a ficha de entrada dela e, portanto o médico se recusou a atendê-la alegando novamente que só seguia o protocolo do hospital. Meus Deus!!! Os médicos de hoje viraram funcionários burocrátas!! Não tem mais como princípio básico de profissão salvar vidas humanas. Apenas cumprem esses malditos protocolos! E tem mais, não conseguem ter "jogo de cintura" para situações emergenciais e ficam sem reação para situações que requerem raciocínio rápido. Afinal, quando uma vida se encontra em perigo, temos que ser rápidos em encontrar medidas de socorro. Esse médico era um jovem que provavelmente era um residente e que foi "jogado aos leões" nesse plantão. Sem ninguém mais experiente para orientá-los, vários outros médicos que estavam lá dentro das enfermarias não diferiam muito desse que atendeu minha irmã. Resumo da ópera: Minha irmã foi finalmente atendida e só recebeu alta por volta das 23h desse dia turbulento e enervante, sendo que havia dado entrada as 13h00. Nesse meio tempo, pudemos presenciar muitas coisas que nos chocaram. Digo nós pois mais tarde veio ter conosco meu irmão. É minha gente o negócio é rezar para termos uma saúde de ferro pois se formos depender da saúde pública, podemos mandar seguir o enterro. Aliás, vendo o que aconteceu e assistindo aos noticiários podemos dizer que a Saúde Pública do Brasil está na UTI respirando artificialmente e sem muitas chances de recuperação.

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