
Quando estudava e fazia o fundamental II, nas aulas de português não conseguia entender o porque que se estudar poesia. Achava tão chato! Não via utilidade para isso. É claro que também não tive uma verdadeira aula sobre poesia e a professora nem se aprofundou no tema mostrando vários autores e suas obras. Na minha infanto ignorância, achava que toda poesia se resumia apenas em versos do tipo "Batatinha quando nasce / se esparrama pelo chão / menininha quando dorme / põe a mão no coração".
Os anos se passaram e acumulei e formei minha bagagem cultural. Mas foi somente há bem pouco tempo que passei a me aproximar, sentir e compreender a poesia e sua riqueza literária. Conheci algumas obras de Carlos Drummond de Andrade, Adélia Prado, Mario Quintana, Ferreira Gullar. Cheguei a ler os sonetos de Shakespeare. Lindos! Recentemente descobri os poemas lindos de Florbela Espanca e Fernando Pessoa. Confesso que esses dois me fizeram enxergar com outros olhos a poesia. Aos poucos fui me despindo do preconceito que tinha com relação a esse gênero literário. Hoje após alguns anos de intensa leitura, após um módulo de poesia com o excelente professor e poeta Edson Cruz e da constante troca de figurinhas com o poeta Ricardo Dias que tem me mostrado e ensinado os caminhos do poema e de sua construção, posso dizer de boca cheia que gosto, aprecio e admiro a obra em si e seus escritores. E confesso que sinto uma pitada de inveja branca daqueles que conseguem escrever belos, criativos e sensíveis poemas. Não consigo. Não tenho esse talento. Mas não me desespero por isso não. Prefiro ficar na arquibancada e curtir os diversos talentos que estão espalhados por aí. No mundo todo temos grandes poetas e grandes obras. E como é bom ler um poema e compreender sua essência, sua métrica, seu ritmo! E hoje, comemorando-se o Dia Nacional da Poesia, não poderia deixar passar em branco essa data. Deixo aqui minha homenagem a todos os poetas vivos e aos que já se imortalizaram pela obra deixada. Parabéns poetas por deixar nosso mundo mais lindo, mais lírico, mais artístico com suas sensibilidades à flor da pele. Abaixo alguns exemplos de poemas que compõem a riqueza do gênero.
Ternura
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.
Vinícius de MoraesSem vista
Singular, sentir não sentindo
ou sentimento inexpresso
de si mesmo, em vaso coberto
de resina e lótus e sons.
Nem viajar nem estar quedo
em lugar algum do mundo, só
o não saber que afinal se sabe
e, mais sabido, mais se ignora. (Carlos Drummond de Andrade)
O Amor
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar..
Fernando Pessoa
Comentários
(Roseli, você me visitou quando estava fechando meu blog e se colocou lá como seguidora, ainda brincou que era significativo ser a de número 200 - esta lá, no luciahsoares.blogspot.com, mas o blog já está desativado.
Agora voltei, final de fevereiro, e se quiser me dar o prazer, estou agora no Sem Medida: www.luciahsoares.com)
Abraço!