Sujeito sem verbo: narrativa impactante


No mês de julho li um livro que me deixou impactada diante de tamanha beleza e crueza sobre a solidão humana. Se pararmos para analisar a fundo, todos sem exceção, somos solitários. A começar pelo nascimento e finalizando com a morte.
Atravessamos uma vida inteira nos iludindo que a solidão só existe no outro. Nunca em nós. Ledo engano!
E pude comprovar das mais variadas formas, a solidão do cidadão nos belos, crus e tocantes contos do escritor Fernando Rocha. O livro já é uma pérola a começar por seu título que já diz muito: Sujeito sem verbo.
Quando recebi pelo correio esse livro vindo do próprio autor, não imaginava o conteúdo da obra. As vezes prefiro assim. Iniciar minha leitura sem nenhum conhecimento e aos poucos descortinar sua mensagem. 
Contos curtos, ágeis mas que nos entrega um cotidiano ácido, sem colorido, sem brilho, comum.
O mais incrível é nos apercebermos que tudo isso é tão próximo de nosso cotidiano.
A diferença é que muitos de nós conseguimos lidar com isso e levar a vida adiante. Outros já não conseguem e perdem pouco a pouco a vontade de viver ou simplesmente vivem a esmo, sem expectativas, sem sonhos, sem planos. Passam pela vida de forma anônima feito fantasmas, quase transparentes, quase miasmas de si mesmos.
A primeira leitura que fiz foi de uma tacada só. 
A segunda leitura, fui fazendo de forma calma, reflexiva, parando em alguns trechos e me pondo a pensar, questionar.
Mesmo após essa segunda leitura, passei alguns dias digerindo tudo aquilo que me tocou profundamente.
Fernando Rocha mostrou que sabe traduzir em palavras suas idéias com maestria, com segurança. Não desperdiça palavras. É certeiro. 
Mostra também que é um autor sensível que capta as emoções no ar, que é um observador nato da natureza humana e expõe de forma lírica as mazelas da solidão.
Sem dúvida, um dos melhores livros que li esse ano! E olha que esse livro é o primeiro livro de contos do autor. Que venham logo os outros! Abaixo, postarei alguns trechos da obra:

"...As lágrimas há muito não a abandonavam, volta e meia limpavam seus olhos e o espírito, o sentimento de não pertencer a si mesma é que a fazia se dar, e se dar tão facilmente, para receber em troca apenas uma sensação de arrependimento que brincava de esconde-esconde."
(Um toque no vazio)

"...O dia no trabalho fora tedioso como quase sempre, ao entardecer. A hora do retorno se aproximava, antes a organização da sua mesa e um até logo para os companheiros de serviço, mas sem obter grande êxito, ouvia o silêncio como resposta."
(A porta)

"...Chegando ao lar, abro a porta do quarto em busca do conforto oferecido aos mortos pelos caixões. Existo quando desisto de insistir em entender os porquês. Guiada pelo som melancólico de minhas canções favoritas, avisto certa semelhança entre minhas lágrimas e a chuva."
(Testamento)

"...Seu desapego era crescente, já não ligava mais para a boa aparência, despia-se de seu formato original para agora repousar no infinito nada, seu último verbo foi chegar, conjugado na primeira pessoa do singular..."
(Sujeito sem verbo)

Por essas pequenas pitadas já deu pra sacar a força narrativa de Fernando Rocha. Essa é minha dica de leitura do dia. Se deseja ler o livro na integra, procure o livro nas livrarias ou pelo site da Editora Confraria do Vento

Fernando, agradeço profundamente o livro enviado por você tão gentilmente. Agradeço a chance de ter contato com a literatura de excelente qualidade que você faz. 
E, por favor, não pare por aí. Quero muitos outros!

Livro: Sujeito sem verbo
Autor: Fernando Rocha
Editora: Confraria do Vento
ISBN: 978-85-60676-73-6
Ano: 2013

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